Planeta dos Macacos

domingo, 13 de outubro de 2013


Há umas duas semanas assisti pela segunda vez um dos melhores filmes de ficção dos últimos anos: Planeta dos Macacos - A Origem. Devo dizer que não era fã da franquia, nem tinha assistido aos filmes antigos, já que eu tinha um pouco de preconceito com produções de antigamente. Não tinha muita expectativa pra essa nova produção, até começarem a sair os trailers, e eu perceber que o filme não era uma continuação. A proposta era pegar apenas alguns conceitos da franquia e adaptá-los para um cenário mais crível e realista. O resultado? Gostei tanto que não consegui parar. Assisti os cinco filmes clássicos, e vejam só: me apaixonei pela série.
 

Vou começar falando do primeiro Planeta dos Macacos, de 1968. O filme estrelado por  Charlton Heston é uma obra prima da ficção científica. É instigante, perturbador, e apaixonante. Pra quem não sabe, o filme é baseado num livro de mesmo nome, do francês Pierre Boulle (adquiri o livro recentemente e em breve posto uma resenha falando só sobre ele). Pra começar, o fato do filme ser do final da década de 60 não me incomodou como achei que incomodaria. A maquiagem é sensacional, tanto que o filme chegou a ganhar um Oscar honorário por ela, já que na época não havia ainda essa categoria.
            Claro que hoje em dia, com toda a tecnologia, queremos sempre que tudo seja o mais real possível. Mas o filme não fica datado nunca, principalmente devido a toda a crítica social que o permeia. Planeta dos Macacos é uma sátira muito bem feita da humanidade. Ficamos com raiva dos macacos, mas apenas porque eles representam o que tem de pior em nós. Não são os macacos que nos causam repulsa, mas sim o fato de nos reconhecermos ali, no meio de tanto pelo. Destaco também o quão perturbador que é ver seres humanos serem tratados como animais. Impossível não se sentir culpado pelo que a própria humanidade faz.
            Além dessa crítica social, há também uma clara referência ao papel que a religião faz em esconder a verdade. Dr. Zaius, um orangotango que é líder político e religioso, e um dos melhores personagens do filme, sabe muito mais do que aquilo que conta em seus sermões.
            Esse primeiro filme também nos passa uma mensagem anti Guerra Fria. A ficção científica é ótima pra esse tipo de coisa já que, principalmente naquela época, críticas escancaradas ao modelo vigente não eram muito bem vistas. No entanto, como escutei uma vez: "marcianos podem falar do comunismo, coisa que o homem não pode". Logo no começo do filme, o astronauta Taylor, interpretado por Charlton Heston, se questiona se irmãos ainda matam irmãos no agora longínquo planeta Terra. E há também o final, que talvez seja o mais marcante de todos os finais de filme; um que com certeza marcou a história do cinema. A cena é até hoje parodiada nas mais diversas mídias. Uma pena que é praticamente impossível assistir ao filme sem já saber o desfecho, já que até a própria capa do DVD já é um spoiler. Agora, se você não sabe do que estou falando, corra e assista esse filme, que deveria ser obrigatório pra qualquer um, amante ou não do cinema.
            Vale destacar a atuação de Charlton Heston. Seu personagem é meio canastrão, dono de um cinismo latente sobre a civilização de sua época, e é impossível o espectador não se apaixonar pelo personagem.
             De Volta ao Planeta dos Macacos, o segundo filme da franquia, foi o que eu achei mais chatinho, apesar de não ser o mais fraco de roteiro. O filme é um claro caça-níqueis: a Sony não vinha muito bem financeiramente na época, e depois do inesperado sucesso do primeiro Planeta dos Macacos, tentou tirar proveito da franquia, o que é até compreensível. Acontece que esse filme é quase uma repetição do primeiro. Apesar disso, há novas questões interessantes abordadas, como os hippies e a Guerra do Vietnã. O general gorila Ursus usa da desculpa de que os macacos precisam expandir as fronteiras em busca de alimento para iniciar uma guerra de conquista. Que outro país que conhecemos faz o mesmo?
            O filme fica chato mesmo quando aparecem os tais dos humanos mutantes. Essa parte do filme é bem maçante. Mas o final consegue ser tão surpreendente quanto o do primeiro. Eu adorei esse final. Além disso, era quase uma mensagem dos EUA para a União Soviética, do tipo: "Olha, se vocês continuarem nos peitando, nós vamos explodir TUDO. Não importa se isso mate nós dois."
            A Fuga do Planeta dos Macacos é o mais família dos filmes da franquia (bem, pelo menos até a cena final). Cheguei a escutar que foi ele o responsável por popularizar a série pra um público mais família, dando início a todo o merchandising baseado em sucessos do cinema.
            Eu achei o filme extramente divertido, apesar dele ter alguns exageros, e ter horas que é necessário uma boa dose de suspensão de descrença. Como todo filme da franquia, não podia faltar uma boa dose de sátira social. Acredito que uma das melhores sacadas do filme foi uma alusão a nossa "mídia do espetáculo", em que qualquer coisa é motivo pra fazer alguém virar celebridade da noite pro dia, até mesmo macacos falantes que vieram do espaço. E com a mesma velocidade que a mídia alavanca essas "celebridades", ela as jogam na lama. Ouvi dizer que há também uma referência ao modo que o serviço secreto americano trata seus prisioneiros. Acho essa interpretação muito válida, e faz todo o sentido.
            Há uma passagem desse filme que acho digna de destaque. Quando questionado sobre o fato de que ao matar os macacos inteligentes poderíamos estar evitando o fim da humanidade como a conhecemos, o presidente lança o seguinte questionamento: "Se voltássemos no tempo, pra quando Hitler era uma criança. Mesmo sabendo de tudo que o futuro nos reservava, você teria coragem de matar uma criança inocente?"
            Enfim, esse terceiro longa é divertido, apesar ser bem menos pensado que o primeiro. Mesmo assim, diferente do segundo, não achei o filme arrastado em momento algum. Vale ressaltar o final surpreendente novamente. Esse, em especial, é chocante demais, principalmente pras crianças que provavelmente o assistiram, já que ele passa essa premissa mais família.
            A Conquista do Planeta dos Macacos é o quarto filme da franquia. Assim como todos os outros, ele levanta boas questões, como a questão da escravidão, e do abuso de poder. Mas ao mesmo tempo, achei um dos filmes com o pior tipo de argumentação. Acho muito difícil de acreditar, mesmo pro cinema mais inocente da época, que um vírus mate todos os cães e gatos e por isso os seres humanos resolvem usar macacos como animais de estimação. Até que o roteiro tenta justificar, falando que o desejo do ser humano em ter um bichinho de estimação é tamanho que até mesmo um macaco serve, e fazendo uso também da célebre frase do terceiro filme: "um homem mata seu irmão, mas não mata seu cachorro." Mas mesmo assim fica difícil de engolir, principalmente entender como esse macacos, dotados da inteligência de um macaco comum, passem a agir como humanos apenas seguindo as instruções de um único macaco inteligente.Mas fazendo toda uma suspensão de descrença, o filme é bom. Deve ter diversas referências que talvez eu consiga pegar assistindo uma segunda vez. E a cena final é novamente excelente. Porém, poucos sabem que a versão original da produção termina com o cruel linchamento do Governador pelos primatas revoltosos, após um emocionante discurso de Caesar. Porém, por ser considerado pessimista demais, um outro final foi criado mostrando o líder dos macacos tendo uma atitude de clemência. Essa versão traz uma conclusão um pouco mais otimista, deixando implícito que poderia haver uma coexistência pacífica entre as duas raças. 
            E pra finalizar a série original, assisti A Batalha do Planeta dos Macacos, que é, em termos de roteiro, o mais fraco de todos. A Batalha do Planeta dos Macacos é muito mais focado em fechar o ciclo da história do que gerar debates filosóficos com as críticas e sátiras dos filmes anteriores. O pior de tudo é ter que engolir que no breve intervalo de tempo entre esse o quarto filme todos os macacos tenham aprendido magicamente a falar. Mas, apesar disso tudo, eu gostei do filme. Gostei talvez até por sua inocência, e por seu final ambíguo. Nunca saberemos se o final desse filme abre uma nova linha do tempo, em que humanos e macacos conseguirão viver em harmonia, ou se esse antecede mesmo o primeiro filme. E foi essa ambiguidade que me agradou: a esperança de que talvez hajam dias melhores, coisas que os outros filmes definitivamente não passam. Mas que fique claro que esse aqui é mais um filme de Sessão da Tarde mesmo.
            Uma das poucas boas reflexões que tive ao assisti-lo foi a de que o ser humano fica tedioso em tempos de paz, ávido por conflito, mesmo quando o mundo parece ir muito bem. E se o final não é tão surpreendente quanto os outros quatro, o filme conta com uma triste reviravolta, que só me confirmou o quanto é bom assistir filmes em que você nunca sabe o que vai acontecer. Você se identifica com os personagens, mas tem medo por eles, e assistio filme todo tenso, porque você sabe que eles podem morrer, e que definitivamente qualquer coisa pode acontecer. Esse tipo de imprevisibilidade é uma coisa que eu acho que falta nos filmes de hoje em dia. Não que eu queira que meus personagens preferidos morram em tela, mas é legal você compartilhar das emoções e aflições que eles passam durante os filmes.
            Terminada então a franquia original, vou falar um pouco de Planeta dos Macacos - A Origem, filme que me fez conhecer toda a série clássica, e da outra tentativa de reboot da franquia: Planeta dos Macacos, do Tim Burton. 
             Não há muito o que falar do filme do Tim Burton. O filme é meio que massacrado pela crítica, mas não é um filme ruim. O problema maior é que ele perde toda a questão social dos filmes originais. É um bom filme pra passar o tempo, com uma trama que te prende na história, ótimas reviravoltas, e com uma maquiagem melhor ainda. Sem nenhum auxílio de computação gráfico, eu consegui acreditar que aqueles atores eram macacos de verdade. Só não vá esperando ver algo de diferente, como foram os filmes originais. Mas vale, sim, assistir. Ah, e vale também pelo final mais "no sense" de toda a série. E nunca saberemos a resposta pra esse final, porque jamais teremos uma sequencia.
            Já A Origem, conseguiu ser tudo aquilo que o filme de Tim Burton não conseguiu, e superou todas as expectativas, sendo sem sombra de dúvidas um de meus filmes preferidos. O filme respeita o filme de 1968, traz várias referências que vão agradar aos fãs, e apresenta uma história de origem que mesmo quem nunca viu nenhum dos filmes originais vai conseguir acompanhar. A história desse filme também é muito bonita, e ficamos emocionados em vários momentos do longa-metragem. Ele pode não ter toda a sátira social do filme original, mas também está carregado de questionamentos. Aqui, tantos anos após o fim da Guerra Fria, somos levados a nos questionar sobre toda a política de uso de cobaias em experimentos, e de como tratamos os animais, sejam em  abrigos ou em zoológicos. A discussão a esse respeito é muito bem contrabalanceada ao acompanharmos a situação do personagem interpretado por John Lithgow, que sofre de Alzheimer. Acompanhar seu sofrimento, e de sua família, é tão tocante quando acompanhar o sofrimento dos animais do laboratório.
            Algo que talvez poucos tenham reparado é que esse filme começa exatamente como o primeiro filme: com uma caçada. Aqui, vemos chimpanzés serem capturados para servirem de cobaias em laboratórios, o mesmo que acontece logo no começo do primeiro filme, mas com humanos. Achei genial, mesmo que tenha sido sem querer.
            Gostei também da atuação de James Franco, que conseguiu me passar uma atuação pra lá de depressiva, totalmente condizente com o momento do personagem. Mas quem merece um Oscar por sua atuação é Andy Serkis, que interpreta Caesar. O macaco é todo feito por computação gráfico, e o ator é responsável por transmitir todas as sua emoções; missão pra lá de difícil. Mas não podíamos esperar menos de quem já foi responsável por Sméagol e King Kong.
            Os macacos, todos feitos em computação gráfica, são bem realistas. Há cenas em que realmente fica muito difícil de os diferenciar de um macaco de verdade.
            Enfim, como você que conseguiu chegar até o final desse post deve ter percebido, há muita coisa a ser falado a respeito da saga Planeta dos Macacos. Há também séries televisas, desenhos animados, e histórias em quadrinhos. Infelizmente, ainda não tive a oportunidade de ter contato com esses. E essa é a minha opinião a respeito de toda a franquia. Desculpem a extensão do texto.

                                                                         
Link do Trailer Legendado: http://www.youtube.com/watch?v=DVWQ9r4n9QU

Entrelinhas

            Vou deixar aqui o link de dois podcasts que escutei sobre a série, e que podem acrescentar muito à discussão.




            Pra quem ainda não sabe, podcasts são como programas de rádio temáticos, mas feitos para um público um pouco diferente. Você pode baixar pelo site e salvar no celular em formato mp3, pra escutar o programa a hora que quiser.


As críticas do Portfólio da Vida não são feitas por um profissional. Não sou crítico de cinema, nem me encho de referências para criticar um filme. Minhas opiniões são como as suas: alguém que adora filmes e os assiste em busca de diversão, e porque não, boas reflexões.  Não assisto filmes procurando furos de roteiro, portanto um filme cinco estrelas não necessariamente é um filme perfeito, mas sim um filme que mexeu comigo, e me prendeu do começo ao fim. Da mesma forma, filmes com notas mais baixas não são ruins, apenas não me despertaram tanto interesse, mas podem despertar o seu. Nunca deixe de assistir um filme por causa da opinião de outras pessoas. E lembre-se: discussões saudáveis são sempre bem vindas!

1 comentários:

Paulo Rennes Marçal Ribeiro disse...

Padu Aragon está brilhante nesta análise, pois realmente O Planeta dos Macacos (o original, com Charlton Heston) foi um marco da ficção científica. Mesmo o segundo, com os humanos mutantes. A comparação que Padu Aragon faz com a Guerra Fria é genial. Valeu a pena ler toda a matéria. Aliás, estou acompanhando as críticas todas, e logo logo Padu vai ter conteúdo para escrever um livro!!! Excelente crítico de cinema!

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