Wolverine: Imortal

terça-feira, 27 de agosto de 2013


Depois do fiasco que foi X-Men Origens: Wolverine, o personagem precisava de um longa-metragem que agradasse não somente aos fãs do personagem nos cinemas, mas aos fãs do Wolverine dos quadrinhos, os principais atingidos com o fracasso que foi o primeiro filme solo do personagem. Ainda que não seja irretocável, Wolverine: Imortal... não morre no final.


             Já faz tempo desde que assisti X-Men Origens: Wolverine, mas lembro que ele não foi um filme de ação ruim; ele até que tinha algumas boas ideias. Porém, apesar do relativo sucesso de bilheteria, as críticas não foram nada positivas. Os produtores esqueceram de que o filme se tratava de uma história do personagem-título e nos entupiram de desculpas para a inclusão de um bando de mutantes desnecessários à trama, além de encher o filme de cenas de ação desnecessárias e sem contexto. Isso tudo fez com que a Fox resolvesse investir mais uma vez no personagem para tentar apagar a imagem deixada pela aventura anterior.
            Hugh Jackman volta para interpretar o protagonista pela sexta vez. Um feito e tanto, depois do fiasco de seu último filme com os X-Men. Acontece que mesmo não havendo semelhança física com o mutante baixinho, troncudo, invocado e feio dos quadrinhos, o ator se afeiçoou tanto ao papel que ninguém consegue imaginar outro ator vivendo o Wolverine. O comprometimento com o personagem é tamanho que Jackman foi buscar os conselhos de Dwayne Johnson para alcançar a forma física que almejava para Logan, e chegou a ficar 36 horas sem consumir líquidos antes de filmar, para que os músculos ficassem com a aparência mais “seca” possível. Isso faz com que mesmo com o costume que as produtoras detentoras de franquias de heróis têm de buscar sempre em um reinicio um ator diferente para que o público possa desassociá-lo do filme anterior (como provavelmente acontecerá com Ryan Reynalds em Lanterna Verde), Jackman consiga sobreviver há até mais de uma encarnação ruim do herói.
            A trama do longa-metragem é baseada na minissérie escrita por Chris Claremont e Frank Miller em 1982, Eu, Wolverine, que nos mostra um Wolverine que luta pelo amor da personagem Mariko e por controle. Em jogo não está apenas o grande amor da sua vida, mas a própria humanidade do personagem. No filme, após a morte de Jean Grey (Famke Janssen) e a aparente dissolução dos X-Men, Wolverine voltou para seu recorrente status de reclusão, e agora vive, isolado e barbudo, próximo a uma pequena cidade, onde tem pesadelos recorrentes envolvendo a telepata ruiva. Ao se envolver em uma briga de bar com um grupo de caçadores irresponsáveis, Logan conhece Yukio (Rila Fukushima), que foi enviado aos EUA a mando de seu pai adotivo, Yashida (Hal Yamanouchi). O ancião está à beira da morte, e quer reencontrar o homem a quem deve a vida. Relutante, Logan acaba concordando em viajar para o Japão.
            Me surpreendeu muito o fato do enredo não se preocupar tanto com o caráter espetacular da ação, mas sim em desenvolver os personagens. As cenas de ação estão lá, e são muito empolgantes, mas tudo tem uma razão de ser. A eletrizante sequencia no trem-bala, o visivelmente impressionante ataque de flechas, o sensacional combate corporal entre Logan e Shingen, e até mesmo a explosão atômica são cenas de arrepiar. Além disso, agora há violência de verdade, mas com sangue moderado, o que não leva à exageros desnecessários. O filme não precisa ter muito sangue pra mostrar a brutalidade do personagem. Eu particularmente prefiro por esse tipo de decisão, pois odeio filmes muito violentos.  
            O começo do filme é particularmente brilhante. Não só a cena de harakiri dos militares nipônicos, uma clara referência histórica ao Japão tradicional, com a honra acima de tudo, mas também a exposição da solidão do herói atormentado pelo passado. Isolado numa floresta do Canadá, aquele Logan é o Logan dos quadrinhos. E isso é um dos grandes acertos do filme: o Logan dessa película é o Logan dos quadrinhos. O filme realmente se preocupa em explicar quem é o Wolverine e os principais dilemas do personagem: como ao longo de sua vida viu muitos dos seus amigos e entes queridos morrerem sem poder fazer o mesmo; no seu interior há uma selvageria a qual ele tenta manter sob controle, mas nem sempre consegue.
            A trama também aborda questões como ética, honra e tradição, que moldaram a nação japonesa no passado, procurando também chamar a atenção para um novo rumo em andamento no Japão capitalista, em que a corrupção enlameia o interior familiar e contrasta com os ideais do país em seu passado.
            Também é positiva a questão do números de mutantes adicionados na história, que reduziu; apenas focando em desenvolver os personagens que são realmente importantes para o roteiro.
            Quanto ao elenco, Hugh Jackman, como sempre, está à vontade no papel e aqui se mostra totalmente em casa, retratando inclusive um Wolverine mais brutal e irônico do que nunca. Além dele, o destaque vai para a estreante Rila Fukushima, muita carismática no difícil papel de Yukio. Também gostei de Tao Okamoto, que além de linda interpreta uma delicada e aparentemente frágil Mariko, mas que ao longo do filme vai mostrando um outro lado, mais firme e decidida. O romance dos dois é também muito bem desenvolvido na minha opinião, principalmente na parte da história em que os dois passam um tempo no interior do Japão. Essa parte do filme é belíssima.
            Wolverine: Imortal consegue ser irretocável até seu arco final, onde explodem aí na tela os vilões cartunescos, que explicam seus planos, demonstram poderes e cometem suas atrocidades, no caminho devastando um dos grandes personagens japoneses da Marvel, o Samurai de Prata. Eu não sou contra adaptações feitas no cinema, desde que tudo seja bem feito. Mas essa distorção do cânone não fez o menor sentido. O filme tinha tudo tomado um rumo tão distinto, e é decepcionante esse final abrupto, onde nada parece fazer muito sentido. Carecemos até da mais simples das explicações científicas e lógicas pro que está acontecendo. Nada faz muito sentido. Bem X-Men dos anos 90, com reviravoltas desnecessárias ao roteiro. Devo admitir que o final realmente me surpreendeu, mas o final mais óbvio, que poderia culminar num belíssimo embate entre Logan e Shingen seria muito melhor do que o que nos foi apresentado.
            Outro defeito que é evidenciado no final é a ausência de vilões marcantes, pois os exagerados Víbora (Svetlana Khodchenkova) e Samurai de Prata, e o perdido Harada (Will Yun Lee), acabam por deixar de lado Shingen (Hiroyuki Sanada), um guerreiro humano que certamente poderia ser muito melhor aproveitado como grande vilão da trama. O problema não está na atuação dos personagens, mas no roteiro que faz Víbora e Harada vagarem pra lá e pra cá desempenhando funções de forma quase aleatória, aparentemente sem objetivos muito definidos.
            Resumindo, o filme é muito bom, mas degringola no final. Uma pena, já que o final toma um rumo tão diferente de tudo que estava sendo apresentado ao longo de todo o longa-metragem.
            Ah, e não saia do cinema antes dos créditos finais, pois há uma cena fantástica e importantíssima para X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, previsto pra maio do ano que vem.




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