O Homem de Aço

segunda-feira, 22 de julho de 2013


O retorno do Super-homem às telas de cinema não poderia ser melhor. Comandado por nomes que há muito já fazem sucesso entre esse tipo de produção, o novo filme do azulão atende à todas as expectativas e já é, sem nenhuma dúvida, um dos melhores filmes do gênero já feitos.

            
            Todo mundo fala do fracasso que foi Superman Returns.  Eu mesmo ainda não tive a oportunidade de ver o filme, mas já li bastante a respeito do mesmo, e o filme parece ser um tanto quanto injustiçado. Superman Returns foi um tipo de continuação do clássico Superman II, coisa que todos os antigos fãs queriam.  O problema é que o estilo do filme funcionava bem na década de 70, quando o filme foi produzido, e um dos maiores atrativos eram os efeitos especiais do voo do herói. Hoje em dia, porém,  qualquer filme faz isso, e o filme foi um fracasso de bilheteria. Em função principalmente disso, a Warner resolveu mudar tudo e lançar um reboot da história do homem de aço. Zack Snyder,diretor, e Christopher Nolan, produtor, tinham como objetivo trazer um dos mais icônicos e importantes super-heróis de todos os tempos de volta ao gosto do público.
            É até difícil falar sobre o Superman. Criado em 1938, na revista Action Comics #1, o personagem definiu o gênero de super-heróis nos quadrinhos. Ao longo do tempo, ganhou diversas histórias de origem, contadas e recontadas diversas vezes, das mais variadas formas, por diferentes escritores. O Homem de Aço é mais do que uma nova origem, mas, sim, uma completa releitura do personagem, adaptado não só para se adequar à linguagem cinematográfica, mas também para se adequar a uma visão de mundo mais atual, a mesma visão que, em 2005, foi responsável pela releitura do Batman. Man of Steel mostra que devemos, sim, respeitar o passado, mas, mais do que isso, devemos viver o presente. Como li certa vez, "os super-heróis de hoje não são os super-heróis de ontem".
            O Homem de Aço conta aquela história que praticamente todo mundo conhece: Clark Kent (Henry Cavill) é um homem que cresceu aprendendo a lidar com poderes além da compressão das pessoas. Após anos tentando entender a si mesmo e as suas origens, Clark descobre que é descendente de Krypton, um avançadíssimo planeta alienígena destruído há muito tempo atrás, e que foi enviado para a Terra por seu pai kryptoniano, Jor-El (Russel Crowe). Kal-El foi encontrado e adotado por Jonathan (Kevin Costner) e Martha Kent (Diane Lane), que o ensinaram a ter controle sobre os grandiosos poderes que carregava. Educado sob os valores humanos de seus pais adotivos, Clark descobre como pode usar seus poderes para ajudar o planeta que o acolheu quando a Terra é atacada pelo destrutivo General Zod (Michael Shannon), um também sobrevivente do planeta Krypton, abrindo assim caminho para se tornar o maior herói que o mundo já conheceu.
            A principal premissa que o roteiro usa para construir o enredo é a questão de mostrar Clark Kent como alguém desajustado à sociedade por ser diferente. Clark é um alienígena perdido num mundo que não é o seu, que passou a vida com medo de mostrar quem realmente é porque os humanos, em geral, hostilizam aquilo que não compreendem. A opção de contar a história fora de ordem, através de flashbacks, funciona muito bem, já que vamos pouco a pouco conhecendo a construção de seu caráter e as preocupações de seus pais para com seus poderes.
            Jor-El fala num dado momento: “Ele será um deus para eles.” Superman é praticamente um deus, que sempre teve esse caráter de messias, de salvador da humanidade. E nesse filme isso fica bem explícito. Reparem na cena em que o herói sai de uma nave com os braços abertos ou quando ele diz que possui exatos 33 anos. Sem contar com Jor-El deixando bem claro que ele pode trazer a iluminação para os humanos.
            O Homem de Aço traz também a discussão sobre as implicações trazidas pela chegada de alguém como o Superman à Terra, sobre como todas as religiões e filosofias deveriam ser repensadas. Isso tudo traz um tom muito mais realista ao longa.
            Man of Steel talvez seja mais um filme de ficção científica do que de um filme de super-heróis propriamente dito, justamente por nos apresentar uma história tão bem elaborada, e, que por mais fantasiosa que seja, tenta ao máximo ter os pés no chão. Tudo nesse filme tem um porque. Desde os poderes dos kryptonianos até o traje do Superman, nada está ali por acaso.
            Falando nos personagens, todos os atores principais, sem exceção, estão excelentes. Henry Cavill está fantástico como Superman. Russell Crowe, como sempre, é fora de série, e Kevin Costner, mesmo com tão pouco tempo em cena, consegue emocionar como pai adotivo de Clark, assim como Diane Lane. Michael Shannon é um caso a parte: há tempos não via vilão tão bom quanto esse General Zod.  Intimidador, esse General Zod se revela uma versão filosoficamente antagônica para o Superman, ainda que não seja realmente um vilão. Zod acredita verdadeiramente em sua causa e no sistema da sociedade que o criou. Ele representa a opressão criada pela impossibilidade do livre-arbítrio, e o vazio que a falta de uma opção pode proporcionar. Apesar de seus objetivos e de sua crueldade, entendemos a dor e as limitações de sua existência pré-determinada. Em dado momento, já no clímax do filme, Zod diz:  "Em cada atitude minha, ainda que cruel, eu luto para o bem estar do povo de Krypton. Para a nossa sobrevivência.". Não dá pra você não sentir empatia por ele.  Já a atriz Amy Adams, que interpreta Louis Lane, cumpre bem o seu papel. Apesar de seu personagem ser, em termos de roteiro, desnecessário, ela se encaixa muito bem na trama. Além disso, vale destacar a excelente química entre Amy e Cavill.
            Durante anos, uma das grandes questões sobre os filmes do Superman foi a falta de ação. Sempre se falava sobre explorar vilões a altura do Superman e sobre fazer sequências de luta mais impactantes. No quesito ação, Zack Snyder mostra como realmente seria se dois seres poderosos brigassem na Terra. Assistir o combate entre Superman e Zod é como assistir dois deuses brigando. E eles usam todos os poderes que tem à disposição, seja o voo, a superforça ou a visão de calor, sem contar objetos que aparecem ao redor, como postes ou caminhões. A ação é, sem dúvida nenhuma, épica, e os combates são dignos de Dragon Ball Z. Só a luta aérea entre Zod e Superman já vale o preço do ingresso. Os efeitos especiais estão espetaculares, e esse é um dos filmes esteticamente mais bonitos que já vi. Obviamente, milhões de pessoas provavelmente morreram durante esses confrontos, e isso acaba sendo meio inevitável num combate entre deuses.
            Superman é o principal dentre os deuses de um grande panteão, algo que se aproxima bastante com o que sempre foi o conceito de super-heróis da DC, que, diferente da Marvel, são mais divindades do que humanos com super-poderes.
            Vale ressaltar o trabalho feito na primeira parte da história, toda rodada em Krypton. É lindo demais, e achei essa ideia de contar parte da história fora da Terra mais uma das sacadas geniais do filme.
            A trilha sonora de Hans Zimmer amplia o impacto e imponência de cada cena, com batidas cadenciadas nos momentos mais calmos, que vão crescendo nos momentos mais épicos. A trilha reforça o caráter épico do filme, e emociona em cada cena.
            Certa vez, comentei da importância do papel do Superman pra sociedade, e de que como ele sempre foi criticado, inclusive por mim, por ser um herói puro demais, não se adequando ao nosso mundo. Hoje em dia todo mundo gosta de uns tons de cinza nos personagens, e esse é justamente o problema dele: Superman não tem esse lado ruim. Ele é a bondade encarnada, o que o torna pra muita gente chato. Mas, essa é também sua maior virtude. Muita gente temia que O Homem de Aço mudasse a essência do Superman, o tornando um personagem mais sombrio. Na minha opinião, isso não acontece. Simplesmente, ele parte pra ação quando necessário. Não se controla, mostra tudo o que tem. Mas em momento algum ele perde aquilo que o faz ser um símbolo para a humanidade. Afinal, ele abre mão de tudo, se entrega de corpo e alma em prol da humanidade, e, afinal, não é de pessoas assim de que tanto precisamos num mundo como o nosso?
            Enfim, O Homem de Aço mostra que é possível juntar história densa, personagens profundos, visual impressionante e ação desenfreada na construção de um filme de super-heróis. Na minha opinião, o filme do ano, disparado. E um dos melhores, se já não for o melhor, filmes do gênero.

SPOILERS!

            Há muito polêmica em torno da forma como o General Zod é derrotado. O Superman mata ele. O que não significa que ele não terá esse código de não matar no futuro.
            O Homem de Aço é uma nova história de origem, e nessa nova história, o Superman está aprendendo com seus erros. Sua aversão à morte, aparentemente, está sendo construída. Ele não gosta da ideia de matar, mas o faz mesmo assim porque se vê sem outra opção. Ou ele mata Zod, ou Zod mata uma família de humanos com a visão de calor. O próprio Zod se coloca nessa posição, pois uma vez que teve seu plano frustrado, não tinha mais motivos para viver, por isso, força o Superman a matá-lo. Depois de tomar essa decisão, pode ser que o Superman assuma uma posição mais firme quanto a não matar. A própria reação de desespero do herói após matar Zod deixa claro que aquele Superman, puro e escoteiro, está ali, mas a inocência se foi.
            Superman fez o que o Superman realmente faria em uma situação difícil, proteger a raça humana. Essa é a essência do personagem. Era matar ou ser morto, e ele não tinha outra escolha. A vida é feita de escolhas, nem sempre elas são simples, e muitas vezes vão contra nossas crenças e nossos códigos morais. O Superman normalmente toma todas as medidas possíveis para evitar a morte de um inimigo, mas, nos quadrinhos, ele já tomou essa decisão extrema, algumas vezes, para salvar vidas.

Entrelinhas

            Aproveitando o embalo do filme, a editora Fantasy lançou o livro Os Últimos Dias de Krypton, que narra os derradeiros dias finais do planeta, e os eventos que antecedem o filme. Já encomendei o meu, mas ainda não tive a oportunidade de ler. Porém, tenho lido muito bem a respeito da obra por aí na internet.


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