Adeus, Tropical

domingo, 23 de dezembro de 2012

De toda a cidade de Araraquara, um dos lugares que mais me traz lembranças boas é o diferente Shopping Tropical. Quando eu era pequeno, íamos quase todo fim de semana passear lá. O shopping era simplesmente lindo. Diferente do design desses shoppings modernos, que são sempre iguais, o Shopping Tropical tinha uma arquitetura toda particular: com algumas áreas descobertas, era amplo, mas só tinha dois andares.

             Bem no meio do shopping, ficava um laguinho ornamentado. Da cabeça de um leão, e de suportes situados mais acima, caia água, fazendo um bonito efeito de cachoeira. Ao lado dessa lugar, ficava a loja que fazia minha cabeça quando pequeno: Ri Happy.
             Ficava horas olhando a vitrine, namorando o então famoso e ultra moderno nintendo 64. Ficava assistindo os videos de Pokémon Stadium que ficavam rodando continuamento na tela do videogame, sonhando com o dia em que iria ter o meu próprio console!  
             Foi nessa mesma loja onde eu ganhei meu primeiro videogame e, com ele, meu primeiro jogo, aquele que marcaria minha vida pra sempre: um Game Boy Color transparente e um cartucho de Pokémon Yellow. Eu não entendia nada de videogames, e por pura sorte não acabei ganhando um cartucho de Pokémon Pinball ao invés do famigerado cartucho amarelo.
             Na época, não fazia ideia de como jogar Pokémon, e nunca consegui passar do primeiro ginásio. Assim como os leigos em Pokémon que estão lendo minha crônica, eu também não fazia ideia de que nunca iria passar do ginásio do Brock, com seus temíveis Pokémon de pedra, apenas com meu Pikachu.
             Foi nessa mesma Ri Happy o lugar em que ganhei um enorme e lindo tigre branco de pelúcia dos meus tios/avós, um presente que guardo com carinho até hoje.
             Aquela loja era, sem dúvidas, o paraiso de toda criança.
             Saindo um pouco desse santuário, nos fundos do shopping ficava uma área repleta de jogos arcade e fliperamas. No canto da loja existia uma daquelas máquinas em que usamos uma garra mecânica para tentar pegar brindes estrategicamente posicionados no interior da máquina de forma a gastar o maior número de fichas possíveis para conseguir brindes que não valem metade do que gastamos no processo, tudo isso apenas pelo prazer da conquista. Pois foi nessa máquina onde consegui minha primeira carta de Pokémon, a primeira de muitas que um dia iriam compor minha enorme coleção.

O que resta do que um dia já foi o shopping mais bonito da região.

       Foi nesse mesmo shopping também onde conheci Dona Jacira e Seu Solon.        Íamos muito almoçar num restaurante que ficava ao lado do cinema. Eu devia ter entre 4 e 5 anos, e estava naquela fase da infância na qual eu queria de tudo que era jeito um bichinho de estimação que eu pudesse carregar pra lá e pra cá. Como minha mãe não gostava nem um pouco da ideia de ter cachorros em casa, ou nenhum outro tipo de bicho que eu pudesse brincar, eu levava pra lá e pra cá uma onça de pelúcia, que na minha cabeça era bem real. Eu não sossegava na mesa, e por um acaso fui parar sentado na mesa onde estava o dito casal, já de idade. Sem cerimônia, comecei a conversar com os dois. E foi assim que conhecemos Dona Jacira e Seu Solon. Por ser sem vergonha, fiquei um bom tempo dando conversa pros dois, que ficaram encantados com o meu jeito descarado de ser e com o peculiar bichinho de pelúcia que eu trazia comigo. Minha mãe e meu pai os conheceram nesse dia, e naquele momento estava nascendo uma amizade que perduraria ainda por muito tempo.
       Por diversas vezes fomos visitá-los em sua casa. Meus pais ficavam conversando e tomando chá na sala de estar enquanto eu ficava fuxicando a casa, que era grande e tinha uns jardins muito bonitos. Porém, o que mais me encantou foi uma enorme biblioteca que ficava nos fundos da casa. Sempre fui fascinado por livros e bibliotecas. Em uma de nossas visitas, Seu Solon, reconhecendo essa minha paixão pela literatura, me deu dois livros sobre animais, outra de minhas eternas paixões. Se trata de uma coletânea de contos clássicos protagonizados pelos animais mais famosos da literatura.  Guardo até hoje esses livros.
       Desde que nos mudamos, há muito não tenho notícias de Dona Jacira. Seu Solon, há muito se foi. A última vez que falamos com Dona Jacira, ela disse que tinha até hoje uma foto minha quando pequeno na estante da sua sala de estar, junto com fotos de seus outros netos.        
       O Shopping Tropical foi importante na minha infância, marcou uma fase da minha vida. Hoje, o lugar está totalmente abandonado. Caindo aos pedaços, sem acesso ao público, é capaz de nunca mais voltar a ser o mesmo, já que recentemente o terreno foi comprado por uma empresa que pretende demoli-lo para dar lugar a outro shopping, mais moderno, e igual a todo o resto. Uma pena. Felizmente, assim como o tempo que passa, ele está guardado em minha memória. O Tropical que eu conheci, no seu auge e esplendor, ficará pra sempre na memória de quem ali viveu momentos de alegria.

1 comentários:

Luiz Victor disse...

E assim a vida passa, transformando nossos melhores momentos em meras recordações.
Mas o tempo continua correndo, e sempre temos a chance de tornar o momento de agora em um grande momento como o que está guardado em nossa memória, para um dia também ser lembrado da mesma forma.

Postar um comentário

Blog contents © Portfólio da Vida 2010. Blogger Theme by Nymphont.