Introduzir uma resenha sobre os filmes da Pixar é sempre desafiador. A empresa parecer ter o dom de sempre nos surpreender com sua capacidade de fazer de forma perfeita filmes para crianças com uma profundidade tão adulta.
Wall-E foi o último desses filmes que eu assisti. Não foi o último a ser produzido pela Pixar, mas cheguei até mesmo a ver Up primeiro.
A trama se passa no ano de 2700 e o planeta se encontra soterrado pelo
lixo produzido pela humanidade. Restou à população terrestre uma única
alternativa: sair em cruzeiro espacial em uma nave munida de todo o
conforto que a modernidade pode lhes oferecer enquanto pequenos robôs,
incumbidos da árdua tarefa de limpar suas quinquilharias, permanecem na
Terra. Todavia, devido ao estado precário do planeta, todos os robôs acabam
por se degradar e param de funcionar. A única unidade ainda ativa é Wall-E. O simpático robô segue uma rotina de
transformar todo o resto deixado pelos homens em cubos de lixo
compactado, na companhia apenas de sua barata de "estimação" (a Pixar é a única empresa capaz de fazer até mesmo uma barata ser carismática! Eu particularme olho hoje com outros olhos paras as baratas da minha cidade). Rotina essa que só muda com a chegada de EVA, uma robô enviada à Terra com a missão de verificar vestígios de vida existentes
no planeta. EVA logo
desperta em Wall-E um grande amor, no sentido mais sincero e puro da
palavra. A partir desse ponto o protagonista terá de encarar situações
nunca vividas por ele para permanecer ao lado dela.
Tudo em Wall-E é cativante. Sua paixão cega pela robô EVA, a solidão, o interesse na
humanidade, o jeito atrapalhado, os olhos tristes e ao mesmo tempo
engraçados, e até mesmo a mudez. Não é necessário que ele faça nenhuma declamação para que saibamos
exatamente o que ele pensa e sente, quais suas angústias e desejos. Como disse Érico Borgo, o pequeno autômato apaixonado é o Charles Chaplin da Pixar.
Para as crianças, fica uma animação graficamente espetacular.
Para os mais velhos, como eu, fica também um alerta: essa será a Terra daqui
algum tempo se a tendência ao consumismo, a preguiça e ao sedentarismo
continuar. O planeta não suportou a destruição que a presença humana lhe
impôs. As gerações que viveram na nave Axiom foram, gradativamente, se
acostumando a nenhum esforço, pois estavam cercadas da conveniente
tecnologia para poupar qualquer trabalho, seja ele um simples gesto de
pegar um objeto a mais de meio metro de distância. O resultado disso são
adultos e crianças completamente obesos, incapazes de sair deste estado
de inércia degradante. Não há como não se assustar com os edifícios
feitos de lixo entulhado, nem de se deixar de se sentir
culpado ao se dar conta de que você é também sujeito ativo nesse desequilíbrio em que
reina a lei do menor esforço.
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