Causos do Interior

sábado, 17 de novembro de 2012

       Esta viagem de poucos dias que estou fazendo à cidade onde nasci está sendo muito importante para mim. Estou lidando com pessoas que tem uma maneira totalmente diferente de levar a vida.
       Quem nunca ouviu falar da sabedoria das pessoas da roça? Tudo bem que Araraquara está longe de poder ser chamada de roça, mas a vida aqui é bem diferente da que estou acostumado a levar em Niterói.
       Ainda não sei porque, mas aqui parece que as pessoas tem tempo de viver. Em Niterói, não são raros os momentos em que me sinto sufocado pelo excesso de coisas pra fazer, obrigações, e possibilidades. Não me refiro a uma falta do que fazer aqui. Praticamente tudo de que disponho em Niterói, encontro aqui também: cinemas, shoppings, praças, barzinhos, pontos de encontro.
       Mas me refiro a uma serenidade, uma saúde, que não estou acostumado a ver de onde vim. Falo tudo isso em razão de um fato que aconteceu comigo ontem, e que me surpreendeu bastante.
       Depois de uma manhã na cidade, tinha que voltar para o hotel e almoçar. Peguei um ônibus. Estava relativamente cheio. No meio do caminho, escutei o celular do motorista tocar. Sem demora, ele parou o ônibus numa esquina, saltou, e se dirigiu a um orelhão. Lá, ficou entre 5 e 10 minutos conversando com alguém sobre sabe-se lá o que. Minha primeira reação foi de estranheza. Olhei pra trás, pros outros passageiros, esperando pra ver quem ia ser o primeiro a armar um barraco. Pelo menos, se fosse em Niterói, não esperaria menos. Afinal, era plena sexta feira, dia de trabalho. Mas o que eu vi quando me virei foi exatamente o oposto: estava todo mundo distraido, nem aí pro motorista lá fora, como se ainda estivéssemos andando. E foi assim durante todo o tempo em que o piloto estava fora. Algumas pessoas olhavam pra rua alheias à tudo, e cheguei a ver uma senhora puxar uma lixa da bolsa e começar a lixar a unha. Nem um comentário maldoso, nem mesmo um suspiro de indignação. Passados os minutos, o motorista voltou, soltou um breve comentário, e retomou seu lugar ao volante. E assim seguimos nosso caminho.
       Vim todo o resto do caminho pensando no incidente. Será que você, que está lendo meu blog, conseguiria manter a mesma serenidade que essas pessoas? Provavelmente elas tivessem mais motivos para reclamar que qualquer um de nós teríamos: eram, em sua maioria, trabalhadores domésticas ou de corporotivas, com chefes chatos e hora marcada, perdendo tempo do seu precioso horário de almoço. Mas agora me pergunto: serve também de alguma coisa perder tempo se estressando? Esse tipo de sentimento só faz mal a nós mesmos, acabando com nossa saúde e nos fazendo deixar de viver. A sabedoria dessas pessoas, mesmo que inconsciente, me tocou. Parece que aqui as pessoas vivem de verdade.
       Espero poder trazer um pouco dessas lições de volta comigo para a cidade, e que isso mude um pouco a maneira como lido com as questões do meu dia-a-dia. Não quero perder tempo com o que não é importante, afinal, a vida é repleta de coisas MAIS importantes.

1 comentários:

Andressa Feijóo disse...

Hmm que sábio! ahahah "Será que você, que está lendo meu blog,.." senti que foi p mim ahaha que engraçado isso, meu amor. Aqui em Niteroi isso daria em morte ahaha
Seu pensativo lindo!

Postar um comentário

Blog contents © Portfólio da Vida 2010. Blogger Theme by Nymphont.