A Herança

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ao ler Eldest - segundo livro do Ciclo da Herança, iniciado com Eragon - percebemos o quanto o autor amadureceu. Em Eragon, Christopher Paolini, ainda jovem e inexperiente, mostra ao mundo seu talento promissor e joga várias boas ideias, não tão exploradas, apenas para nos introduzir ao mundo da Alagaësia.
É em Eldest que percebemos sua mudança. Ideias são retomadas e começam a ser muito bem desenvolvidas.
A narrativa de Eldest começa três dias após a cruel batalha travada por Eragon para libertar o Império das forças do tirano Galbatorix. Ciente de sua própria fragilidade, Eragon parte em busca de um tal Togira Ikonoka – "O Imperfeito que é Perfeito" –, que supostamente possui as respostas para todas as suas perguntas, junto com Saphira, o dragão azul que o acompanha desde o início da aventura, para Ellesméra, a terra onde vivem os elfos. Lá, eles pretendem aprender os segredos da magia, da esgrima e aperfeiçoar o seu domínio da língua antiga. Em sua jornada, que também é uma caminhada para a maturidade, Eragon descobre que nem tudo sempre é o que parece. Os desafios de Eragon são entremeados pela luta de Roran, seu primo, cuja importância aumentou em relação ao primeiro livro, formando narrativas paralelas que se juntam no fim da trama.
Eldest é um livro extramente filosófico. A maior parte disso se deve ao fato de que nesse volume grande parte da trama está focada no treinamento de Eragon. Há muitos diálogos, questionamentos e reflexões que são válidas não só para o universo criado por Paolini, mas para o mundo real também. Quem quer um livro repleto de ação impensada, talvez venha a se decepcionar. Já para quem gosta de uma boa história, como eu, o livro é um prato feito. Digo, sem medo, que Eldest se trata de uma obra-prima.
Uma das coisas que sempre me chamou atenção nessa trilogia de quatro livros, foram os questionamentos que os personagens se fazem a todo momento. Ninguém, em nenhum dos livros que li, se transforma repentinamente num herói com senso de justiça que sabe exatamente o que deve ser feito. Muito pelo contrário. São todos tão verossímeis, que muitas vezes não sabem se o que estão fazendo é certo ou errado. Suas escolhas muitas vezes se assemelham às nossas, pessoas comuns, que muitas vezes somos obrigados a aceitar uma sobrecarga de responsabilidade pela qual não nos sentíamos preparados.
A argumentação do livro é perfeita. Todas as arestas soltas deixadas em Eragon são muito bem desenvolvidas e explicadas aqui.
Quando resenhei sobre o primeiro volume, disse que algumas das descrições de Paolini eram muito confusas. Tinha dificuldade de imaginar certas de combate e ambientes. Tudo isso mudou aqui, mais uma prova do amadurecimento precoce de Paolini. Todos os ambientes e cenas são muito bem descritos. Não foram raras as vezes em que consegui me imaginar dentro das páginas do livro, sentindo cada sensação, vendo cada cenário, ou ouvindo cada som, narrados na aventura.
Se na maior parte do livro as cenas de ação ficam por conta de Roran e os aldeões de Carvahall, o final do livro é repleto delas. A batalha na Campina Ardente é tão bem descrita que consegui me sentir dentro do acampamento do exército dos rebeldes. Fiquei ansioso junto com os soldados enquanto esperava o primeiro sinal de ataque do inimigo. Não foram poucas as vezes em que me peguei agitado lendo o livro, torcendo ora pra um ora pra outro, pulando páginas, tenso por descobrir mais, mas logo voltando atrás para não perder cada detalhe dessa deliciosa saga.
Eldest significa 'o mais velho'. O título enfim faz sentido quando lemos os últimos capítulos. Após uma  revelação arrebatora, só ficamos ainda mais ansiosos para ler a continuação.
Como disse Eragon, em um raro momento de sabedoria: 'Pais, mães, irmãos, primos, tudo começa e acaba na família.' E que o legado de Eragon demore a acabar, pois se trata de uma obra-prima de raro brilhantismo.


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